Um novo caminho a percorrer

Data08/08/2017 CategoriaSuicídio

A maior certeza que o ser humano possui diz respeito ao fato de que um dia morrerá. E a maior incerteza relaciona-se ao dia em que isso venha a ser a realidade. Ambas as situações são indiscutíveis.  Entretanto, para aquele que decide pela morte voluntária, o dia é determinado por ele. Variam os motivos, não o gesto, apesar dos meios utilizados serem diversos.

O escritor franco-argelino Albert Camus, no livro O Mito de Sísifo, declara que o suicídio é a única questão filosófica verdadeira. Ele tem a ver com o dilema que todos os indivíduos têm de se defrontar: se a vida vale ou não a pena ser vivida. Camus ainda diz que um ato como este é preparado no silêncio do coração, como uma obra de arte. O ato suicida – segundo ele -, não é somente um ato físico que põe fim à vida. O futuro suicida imagina os outros, os seus olhares, sentimentos e pensamentos, diante do seu corpo morto. O seu ato é um gesto que deseja ser compreendido, uma palavra que deseja ser ouvida.

O que ele não diz é com que critérios se pode avaliar isso, mesmo porque somente a vida pode oferecer tais critérios. E quem se suicida já não dispõe da existência para  esclarecer tal questão. Rubem Alves escreveu em uma de suas crônicas que o indivíduo que se mata sente-se roubado do essencial, mutilado sem remédio, e a vida, então, não mais vale a pena ser vivida.

Na verdade, o que se tem certeza é que, na literatura ou na vida real, a questão do suicídio é sempre complexa, é campo vasto. O suicídio de Werther e o de Madame Bovary, entre outros, ocupam no mundo da arte e, até mesmo, no da vida e do sofrimento, lugares de relevo tanto quanto os de seres humanos que estiveram compondo as verdadeiras estatísticas da humanidade.

São muitos os autores e personagens que se suicidaram no palco da existência ou fora dele, mas sempre dentro de uma mesma e única cena: os personagens de Shakespeare, Romeu e Julieta, o escritor Stephan Zweig e o poeta Antero de Quental, apenas para exemplificar. O CVV reconhece que a pessoa que se mata usa o mesmo direito que têm os outros de esperar pela morte natural. Nem por isso, porém, abre mão de sua atribuição de atuar na prevenção, mas não recorre a imposições, conselhos ou dedos em riste. Nosso trabalho se baseia na compreensão, fraternidade, solidariedade e disponibilidade incondicional em ouvir o outro.

Bartyra / Recife – PE

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