Somos conduzidos pelo instinto ou pela razão?

Data24/11/2015 CategoriaAutoconhecimento

Carl G. Jung escreveu: “A triste verdade é que a vida do homem consiste de um complexo de fatores antagônicos inexoráveis: o dia e a noite, o nascimento e a morte, a felicidade e o sofrimento, o bem e o mal. Não nos resta nem a certeza de que um dia um desses fatores vai prevalecer sobre o outro, que o bem vai se transformar em mal, ou que a alegria há de derrotar a dor. A vida é uma batalha, sempre foi e sempre será”.

A palavra instinto, segundo o dicionário Houaiss, quer dizer impulso interior, independente da razão e de considerações de ordem moral, que faz o indivíduo agir, especialmente se a ação for antissocial.

O instinto é uma parte do nosso comportamento que não é fruto do nosso aprendizado. Porém, o meio em que vivemos e nosso aprendizado ao longo da vida podem influenciar muito o modo pelo qual nos expressamos instintivamente. No seu Ensaio Sobre a Cegueira, José Saramago mostra como o ser humano bem educado, culto e de posse de suas faculdades mentais reage ante uma epidemia de cegueira que acomete todos os moradores de uma grande cidade, que são colocados em quarentena em um hospital desativado. Passam a conviver sem condições de higiene em um ambiente caótico.

O foco da história é mostrar a natureza do comportamento humano quando exposto a uma situação extrema, quando os sentidos mais básicos desaparecem e surgem a incapacidade, a impotência, o abandono. Então, o instinto se sobrepõe à razão e à dignidade humana. Saramago disse: “Mas quando a aflição apertar, quando o corpo se nos desmanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos”.

Charles Darwin, com a Teoria da Evolução, afirmou que somos descendentes dos primatas e Sigmund Freud descortinou o inconsciente, afirmando que não somos tão donos de nós mesmos quanto pensávamos. E começamos a questionar Deus, a sociedade e esse tal de inconsciente – nós mesmos. E até hoje nos questionamos, nos cobramos depois de termos agido pelo instinto.

Culpamos-nos do nosso comportamento agressivo, antissocial e falamos: “Aquele não era eu! Eu não sou assim!”. Sinto muito, mas aquele era você. Sim, você também é assim! Apenas agiu sem pensar, não fez uso da razão e agiu pela emoção do momento. E sofremos quando agimos assim, insatisfeitos com nosso comportamento nada humano. Felizmente, a insatisfação é uma condição humana que nos faz evoluir. É parte do instinto de sobrevivência. Guimarães Rosa dizia que o “animal satisfeito dorme, e por isso é morto pelo predador”.

E a razão? A razão é nossa capacidade de julgar, raciocinar, ponderar. Ela nos faz refletir antes de agir. Traz-nos lembranças de comportamentos e experiências vividas que usamos para examinar novas situações. Razão e emoção são condições humanas, vivemos sempre nos equilibrando entre elas. Precisamos admitir que dentro de nós vive um animal e que a qualquer momento por um acontecimento inesperado ou uma carga de tensão maior podemos adentrar no terreno da animalidade.

Aliás, diz a lenda que dentro de nós habitam dois animais: um bom e outro mau. Quem vai se sobressair será aquele que alimentarmos mais (qual animal você está alimentando hoje?). Quando conhecermos nosso lado razão e nosso lado emoção, nosso lado cérebro e nosso lado coração, poderemos trabalhar para desconstruirmos mitos, paradigmas, convenções e, assim, permanecermos no caminho do meio: nem tanta razão, nem tanta emoção e, sim, a busca pelo equilíbrio.

Fátima
CVV Itapema – SC

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