Só não oscila o que já morreu

Data01/04/2017 CategoriaConflitos

Altos e baixos. É senso comum que nossa existência é formada por eles. Todos conseguem compreender isso, mas aceitar é mais difícil. Há certa necessidade de controlar o fluxo da vida, temendo que a fase de baixa se apresente, e pior ainda, que perdure.

Quando ela vem, não raro surge certa revolta, sentimento de que a vida é injusta, porque, apesar dos nossos esforços, nunca conseguimos ficar bem por muito tempo.

Costumamos idealizar um momento em que tudo vai estar resolvido: quando passarmos no vestibular, quando acabarmos a faculdade, quando arranjarmos o emprego dos sonhos, quando casarmos, quando tivermos filhos, quando os filhos crescerem, quando os filhos se formarem e forem independentes… sempre nos projetando para um tempo em que não haverá mais problemas.

Mas eis que vem a vida e muda tudo. Uma perda inesperada, uma doença, um abandono, uma grande decepção. Às vezes a adversidade vem naquele que julgávamos o nosso melhor momento e a queda é dilacerante.

O fracasso é sempre doloroso, mas se torna especialmente difícil em uma cultura de pouca tolerância à frustração e alta exposição e celebração do sucesso. Afinal, o que é pior para alguém que está passando por uma fase de baixa do que entrar em suas redes sociais e ver todos escancarando suas vidas maravilhosas?

Quando alcançamos um ponto considerado satisfatório, surge a vontade de nos agarrar a ele. Queremos a estabilidade naquela situação que nos deixa confortáveis, às vezes até a ponto de limitar nossos sonhos, evitando vôos mais altos e assim as possíveis quedas. Mais do que estabilidade, alguns querem uma vida inteira de pontos altos, como na tirinha ao lado, o que é conceitualmente impossível, pois só existe alto se comparado ao baixo.

No fim, todos sabem que a vida é cíclica é que é impossível ser feliz o tempo todo. Todos sabem que não temos controle sobre tudo o que nos rodeia. Aliás, somos muito mais vulneráveis ao acaso do que gostaríamos e esta busca pelo impossível, por evitar a todo custo situações de tristeza e dor, nos aflige, consome enorme e energia e muitas vezes impede de vivenciar o presente, com medo do que pode dar errado.

Há uma certa resistência em aceitarmos que a vida é como um monitor de sinais vitais: enquanto estamos vivos, a linha vai do ponto mais alto ao mais baixo, em segundos. De forma rápida ou lenta, ela sempre está em movimento. Ela só para e fica estável quando morremos.

Luiza
CVV Belém/PA

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