A saúde mental sob novo paradigma

Data27/10/2020 CategoriaSaúde mental

No encerramento do X Simpósio Internacional de Prevenção do Suicídio, em 30 de agosto de 2020, ocorreu a mesa redonda com o tema “A Saúde mental sob novo paradigma”, mediada pelo jornalista André Trigueiro, com participação da psicóloga Maria Júlia Kovács e do psiquiatra e diretor do CVV, Alan Kardec Gonzalez. Durante a conversa, foram abordados temas como a mudança de percepção da sociedade em relação a saúde mental durante a pandemia, a necessidade de tratamentos mais adequados e integrados, assim como a atuação do CVV no processo como um todo.

A mesa se iniciou com a reflexão de como o isolamento provocado pela pandemia aumentou algumas patologias da saúde mental e os casos de suicídio. Questionou-se se a experiência adquirida durante a pandemia levará a uma melhora no modo de lidar com a saúde mental ou voltará tudo ao como era antes, quando a poeira baixar.

Para Maria Júlia, a pandemia trouxe uma experiência nova para todos nós e que uma crise assim resulta em mudanças. O isolamento, em sua percepção, exacerbou alguns problemas, mas é possível manter uma visão otimista, considerando que a atenção destinada à saúde mental  pode gerar uma maior valorização dos profissionais envolvidos, na sua melhor formação e na abertura de novos serviços à população. A profissional avaliou ainda que o Brasil ainda está indo mal na forma de lidar com as questões da saúde mental, especialmente no preconceito, com destaque negativo para os homens que ainda procuram menos os serviços comparado a mulheres. Entretanto, ela destacou o aspecto positivo da disponibilização de serviços on-line, pontuando que seria bom se pudessem ser mantidos mesmo depois da pandemia.

O psiquiatra Alan Kardec destacou que, com a pandemia, estamos todos mais atentos às nossas emoções, inclusive as pessoas começaram a perceber em si próprios problemas como insônia e depressão. Alan relatou ainda que tudo isso aumentou a sensação de igualdade e humanidade em todos nós, algo que já vem sendo praticado nos atendimentos do CVV, o chamado nivelamento entre voluntário e a pessoa que nos procura. Destacou também que a pandemia acelerou e intensificou alguns processos na área de tratamentos e percepções das pessoas sobre o assunto, mostrando que o isolamento por si só é inadequado para o tratamento de transtornos mentais, devendo ser aplicado em conjunto com uma abordagem multidisciplinar. Por fim, comentou que a saúde mental é uma área das mais participativas da saúde de uma maneira geral e que, com a maior percepção sobre o problema, no futuro a participação de todos será maior, inclusive de familiares da pessoa atingida.

Continuando sobre as formas de tratamento, André Trigueiro demonstrou preocupação com uma medicamentalização exagerada, inclusive de crianças, sendo complementado por Maria Júlia, para quem isso seria, muitas vezes, resultado da busca de um diagnostico rápido, que poderia ser precedido de abordagens como uma escuta mais atenta. Segundo ela, especialmente casos de luto deveriam ser tratados com mais cuidado, por ser um processo natural, não é uma doença.

Os participantes da mesa conversaram sobre a necessidade de universalizar práticas de prevenção do suicídio em diferentes níveis, em escolas, universidades, instituições, sociedade em geral, todos direcionados por políticas públicas de longo prazo, organizadas e propostas pelo Ministério da Saúde, sendo o CVV uma pequena parte desta rede de proteção.

A mesa-redonda concluiu com a percepção de que houve avanços importantes na comunicação sobre suicídio e saúde mental, e que o desafio agora é com a qualidade das informações, para que as pessoas que estão se aproximando do problema do suicídio, tenham uma visão mais clara e mais lúcida das questões e ações adequadas.

Para assistir o conteúdo completo acesse o canal CVVOficial, no Youtube:

Viviane

Belém/PA

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