Saúde mental da população negra

Data20/11/2020 CategoriaSaúde mental

As chances de um adolescente ou jovem cometer suicídio é 45% maior entre negros. Entre os do sexo masculino, aumentam em 50% se comparados aos brancos também na faixa etária entre 10 e 29 anos. Os dados fazem parte de uma pesquisa feita pelo Ministério da Saúde. Segundo a psicóloga Débora Elianne de Souza, especialista em psicopatologia e saúde pública pela USP, os números precisam ser analisados a partir de um contexto histórico. “Quando a população negra é sequestrada do seu continente e colocada em uma situação de escravidão é retirada dela toda a possibilidade de poder ser em sua potência”, avalia.

O levantamento mostra que entre as principais causas associadas ao suicídio entre negros estão a ausência de sentimento de pertencimento, sentimentos de inferioridade e de incapacidade, rejeição, violência e solidão. A especialista lembra que o que se vive hoje é o reflexo do passado. “Você tem uma população historicamente privada de dignidade, de estudo, de condições dignas de moradia, de condições adequadas de cuidar da saúde mental. Nos dias atuais, continua passando por tudo isso e vai se tornando uma população mais vulnerável”, disse ela, em entrevista ao programa Como Vai Você?.

Para Débora, o jovem negro paga um preço muito alto porque não consegue se ver em toda sua plenitude. No processo de existir, destaca ela, conhece sua história apenas na perspectiva da inferioridade. “Na medida que poderia estar fortalecido para cuidar de si e de outro, precisa ainda se reconhecer, se restituir e se sentir pertencente, se sentir gente em um mundo que sempre o segregou e o colocou em um contexto de inferioridade”.

O sofrimento pode vir a ser transformado em transtorno. Mas, mais do que qualquer diagnóstico, a psicóloga defende novas práticas contra esse cotidiano de exclusão. A virada de página pode e deve ser coletiva, afirma. “É necessário ter olhos de ver e mudar essa realidade que maltrata e machuca. O racismo é uma crueldade das piores”. Os estereótipos continuamente reforçados fazem parte desse contexto. “À medida que coloco um padrão universal, coloco uma condição de que qualquer coisa diferente é ruim. Se existe uma imagem e isso nada tem a ver comigo, posso querer alcançar o inalcançável. E não porque não sou capaz, mas porque sou diferente e minhas diferenças não são respeitadas”.

Como reflexo, podem surgir, por exemplo, ansiedade e depressão. “Fruto de uma cisão às vezes parcial e em outras completa com o que somos”. O acolhimento, a liberdade de ser autêntico, o respeito e o não julgamento são essenciais. “Assim, é possível se olhar com afeto, digno de amor e buscar referências para se ver como qualquer outra pessoa nesse mundo”, conclui.

Se você quiser conversar sem ser julgado, com respeito, aceitação e compreensão, ligue para o CVV pelo número 188 ou acesse cvv.org.br

Leila – Brasília e Felipe – Porto Alegre

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