A mídia como prestação de serviço durante a pandemia

Noticiar a verdade significa intensificar a ansiedade e o medo? Essa foi a primeira questão discutida entre os participantes do debate realizado no X Simpósio Internacional de Prevenção do Suicídio, realizado de forma virtual pelo CVV, no final de agosto, em mesa que tratou do papel da imprensa durante a pandemia de Covid-19, e teve como participantes a repórter da TV Record e autora do livro “Sobre viver: como ajudar aqueles que você ama a se afastar do caminho do suicídio”, Cleisla Garcia, e o repórter da Veja Saúde e presidente da Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Ciência, André Biernath. A conversa foi mediada pelo jornalista André Lorenzetti.

Os debatedores falaram de como a imprensa mudou a forma de falar sobre saúde mental e suicídio, desde o surgimento do desafio da Baleia Azul e da série 13 Reasons Why. “Até 2017 o suicídio era a borboleta bruxa da sociedade e do jornalismo. Nós tínhamos em mente que falar de suicídio gerava suicídio. A imprensa não divulgava e quando fazia, cometia equívocos na forma de expor o assunto”, contou Cleisla.

Segundo ela, nos últimos cinco anos os veículos de comunicação passaram a falar sobre suicídio de maneira mais responsável, evitando gerar gatilhos para novos casos. Mesmo assim, afirma, algumas questões ainda precisam amadurecer e para ajudar nisso existem recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), além do CVV como fonte especializada no assunto.

Com a Covid-19, novamente a saúde mental virou pauta. As emoções provocadas pelo isolamento já são consideradas pela ciência como uma das ondas da pandemia ou pandemia oculta, que pode resultar no aumento no consumo de remédios, bebidas alcoólicas e outras drogas, por causa de ansiedade, depressão, medo, etc. A desigualdade social também é fator agravante. “As primeiras mortes por Covid-19 foram entre pessoas da classe mais pobre. É dever do jornalismo mostrar os dados e a tragédia vivida, pois elas revelam a falta de políticas públicas e diretrizes bem estabelecidas para conter a pandemia”, afirmou André Biernath.

A função do jornalismo é informar. Por isso, de acordo com os convidados, as pessoas voltaram a prestar atenção na imprensa formal, ao invés das redes sociais. Resta o desafio de equilibrar o espaço entre notícias negativas e positivas. Também falta o público entender que precisa ter senso crítico ao escolher o veículo de comunicação, afinal de contas, os debatadores destacaram que imparcialidade total não existe, pois tanto as empresas seguem uma linha editorial, quanto os profissionais têm suas próprias opiniões ou lhes faltam habilidades para lidar com alguns dados, gerando uma parcialidade involuntária. Há, ainda, uma pressão para divulgar antes da concorrência, deixando a notícia com recortes parciais do fato.

O encontro terminou com avaliações sobre a importância dos jornalistas durante a pandemia, a necessidade de profissionais especialistas em assuntos como o suicídio e o uso de informações científicas como base para orientar a população. Também foi comentada a evolução do jornalismo, com tecnologias e conteúdos pagos; a saúde física e mental dos profissionais da comunicação; as mudanças na forma de produzir conteúdo durante a quarentena; os desafios em se adaptar à nova realidade; a missão do jornalismo e a responsabilidade de cada um na busca por um mundo melhor.

Para assistir o conteúdo completo acesse o canal CVVOficial, no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=iQu5r_TIkPQ

Débora

Rio do Sul/SC

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