Coragem ou Covardia?
É comum ouvirmos algumas pessoas reduzirem o suicídio às elementares definições de duas palavras antagônicas: covardia ou coragem.
Na realidade, não podemos ver este ato de decisão extrema de maneira tão simplória, concluindo: “Quem se mata é um covarde, não tem coragem de enfrentar a vida” ou “Quem se mata é um corajoso, ultrapassa até a lei do instinto de conservação”.
O suicídio, sim, é algo que revela a autonomia da decisão de alguém que chegou às vias de fato, independentemente da coragem ou da covardia.
Por trás do gesto ergue-se um mundo enigmático que não cabe em definições complexas, muito menos simplórias. Compreender o suicídio requer entender a sua dimensão na infinitude do universo e isso está bem aquém da condição humana.
Afinal, somos apenas seres participantes da imensidão do cosmos. Frágeis elos de uma corrente imensurável que define a humanidade quando, de repente ou programadamente, alguém decide quebrar esta corrente, destruindo o seu elo, deixando entre nós um espaço vazio, que não encontra resposta, nem na coragem nem na covardia, deixando somente palpáveis o local em que se consumou a morte, o corpo que jaz imerso num silêncio irresgatável.
Palpável também – em determinadas circunstâncias é o instrumento que põe um ponto final à atitude. Vemos isso no romance Rio Seco do escritor paraibano, F. Pereira da Nóbrega, ao escrever: “Um dos mais poderosos homens do vale do Piancó, que, em sua vida inteira, jamais tivera coragem de ver sangue derramado, com um tiro no coração se suicidara”.
Talvez tenha sido por essa impossibilidade de sabermos em profundidade o motivo do gesto suicida, senão conjeturas e alguns vislumbres, que Carlos Drumond de Andrade no poema Mãos Dadas veementemente “declamou”: “…não distribuirei entorpecentes, ou cartas de suicida…”
Revela tudo a carta de um suicida? Drummond sabia que não. Sabemos que não, mesmo na condição de voluntários do CVV, preparados que somos para ouvir e ajudar, antes que a carta seja redigida e a atitude tomada. É sensato, a exemplo de Clarice Lispector, que no livro Felicidade Clandestina, em Os Obedientes, não buscou respostas, apenas registrou: “Certo dia, ela estava comendo uma maçã e sentiu quebrar-se um dente da frente. Olhou-se no espelho do banheiro, ‘viu uma cara pálida, de meia-idade, com um dente quebrado, e os próprios olhos…’ Então, jogou-se pela janela”.
Por que? Covardia? coragem? Claro que não. Um trágico gesto que se consumou. Um enigmático gesto – a causa precipitante manifesta num dente quebrado que, provavelmente, atrás de si, escondeu um sem número de fatores responsáveis pelo ato.
Na realidade, não podemos ver este ato de decisão extrema de maneira tão simplória, concluindo: “Quem se mata é um covarde, não tem coragem de enfrentar a vida” ou “Quem se mata é um corajoso, ultrapassa até a lei do instinto de conservação”.
O suicídio, sim, é algo que revela a autonomia da decisão de alguém que chegou às vias de fato, independentemente da coragem ou da covardia.
Por trás do gesto ergue-se um mundo enigmático que não cabe em definições complexas, muito menos simplórias. Compreender o suicídio requer entender a sua dimensão na infinitude do universo e isso está bem aquém da condição humana.
Afinal, somos apenas seres participantes da imensidão do cosmos. Frágeis elos de uma corrente imensurável que define a humanidade quando, de repente ou programadamente, alguém decide quebrar esta corrente, destruindo o seu elo, deixando entre nós um espaço vazio, que não encontra resposta, nem na coragem nem na covardia, deixando somente palpáveis o local em que se consumou a morte, o corpo que jaz imerso num silêncio irresgatável.
Palpável também – em determinadas circunstâncias é o instrumento que põe um ponto final à atitude. Vemos isso no romance Rio Seco do escritor paraibano, F. Pereira da Nóbrega, ao escrever: “Um dos mais poderosos homens do vale do Piancó, que, em sua vida inteira, jamais tivera coragem de ver sangue derramado, com um tiro no coração se suicidara”.
Talvez tenha sido por essa impossibilidade de sabermos em profundidade o motivo do gesto suicida, senão conjeturas e alguns vislumbres, que Carlos Drumond de Andrade no poema Mãos Dadas veementemente “declamou”: “…não distribuirei entorpecentes, ou cartas de suicida…”
Revela tudo a carta de um suicida? Drummond sabia que não. Sabemos que não, mesmo na condição de voluntários do CVV, preparados que somos para ouvir e ajudar, antes que a carta seja redigida e a atitude tomada. É sensato, a exemplo de Clarice Lispector, que no livro Felicidade Clandestina, em Os Obedientes, não buscou respostas, apenas registrou: “Certo dia, ela estava comendo uma maçã e sentiu quebrar-se um dente da frente. Olhou-se no espelho do banheiro, ‘viu uma cara pálida, de meia-idade, com um dente quebrado, e os próprios olhos…’ Então, jogou-se pela janela”.
Por que? Covardia? coragem? Claro que não. Um trágico gesto que se consumou. Um enigmático gesto – a causa precipitante manifesta num dente quebrado que, provavelmente, atrás de si, escondeu um sem número de fatores responsáveis pelo ato.
Bartyra
CVV Recife – PE
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