Como nos enxergamos?

Talvez o maior diferencial do ser humano para outras espécies de seres vivos seja a capacidade de se colocar no lugar do outro. Ouvimos desde muito cedo: não faça com o outro o que não quer para você mesmo. É um exercício difícil colocar-se nos sapatos alheios. É tentar sentir o que o outro sente e, com isso, entender suas reações, admitir que as outras pessoas pensam de forma muito diferente de nós.
Mas tem um outro lado que pouco pensamos, ou exploramos, o doloroso exercício de nos olharmos pelos olhos dos outros. Ver como somos vistos, enxergar a nós mesmos sem filtros, sem os nossos poréns, máscaras e desculpas que nos defendem e tudo explicam em nossa consciência.
Vivemos em uma sociedade que julga e condena a cada minuto. A impressão que dá é que o antigo ditado de não fazer ao outro o que não se quer para si hoje em dia mudou para julgue os outros antes que julguem a você mesmo. Cada um tem seu gabarito na vida, seus valores, suas regras do que é o certo, do ideal. Temos definidos padrões de cores, sexo, alimentação, religião, política, esportes, conduta única, estabelecidos por nós mesmos em nosso dia a dia, em nossa caminhada.
Se conseguimos acertar todas as questões deste gabarito, ótimo, conquistamos uma vida de sucesso. Mas, e se algumas destas questões que nos impusemos der errado? Será que se não acertarmos cem por cento do tempo estamos com problemas? Infelizes? Em alguns momentos talvez, pois não alcançamos alguns sonhos, alguns ideais, mas temos outra chance, sempre, de recomeçar.
Outro aspecto, que pode ser preocupante é usar nosso gabarito para outra pessoa, e enxergar os insucessos deste alguém e desacreditá-lo ou ainda, respirar aliviado: esse não sou eu. Eu sou melhor pois ele tem defeitos em relação à minha régua, a minha medida. E quando alguém atingir seu gabarito com facilidade, podemos pensar: com certeza esse alguém fez algo ilícito para ser assim tão acima de mim. Desta forma me conforto. Continuo sendo melhor.
E dai em diante podermos escolher como usar nosso gabarito, se este gabarito precisa ser igual a vida inteira, se podemos mudá-lo, se ele vai se transformar ou se adotaremos ele de forma imutável, inflexível e condenaremos tudo aquilo que não cabe nele. Se refletirmos sobre como temos vivido, talvez possamos pensar que apesar dos dois olhos que possuímos, na maioria das vezes, não conhecemos quem somos. É quando usamos nosso olhar para encontrar um outro alguém com que nos identificamos ou não e, através dele, do outro desarmado, com sinceridade, de peito aberto que conseguimos nos ver.
Temos a oportunidade de nos conhecermos, nos percebermos com nossos defeitos, enxergarmos nossas qualidades. É assim dar sentido a uma vida cheia de opções, sem um gabarito a seguir. A frieza dos relacionamentos e das pessoas, muitas vezes pode vir desta intolerância que pode ser fruto desta cegueira que nos impusemos, do excesso de gabaritos e julgamentos com os quais convivemos.
Não posso calçar os sapatos do outro se nunca vi em mim o tamanho dos meus pés. O autoconhecimento, além de ser a capacidade de olharmos para dentro de nós e nos compreendermos, é a capacidade de nos conhecermos através das lentes do outro. Nem sempre fazemos isto, mas é nestes momentos, quando nos enxergamos no outro, que nos tornamos mais frágeis, mais humanos, e poderíamos aliviar, assim, o peso de tentarmos ser perfeitos e pararmos de carregar a angústia desta impossibilidade. Sócrates, desde a Antiguidade, já ensinava: conhece-te a ti mesmo!
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