A solidão necessária
As transformações pelas quais passou o modelo de família nas últimas décadas culminou com um crescente número de pessoas que moram sozinhas, em razão do aumento da expectativa de vida, da taxa de divórcios e da tendência entre os jovens de morar desacompanhados, pois o momento de casar e/ou ter filhos é cada vez mais adiado para além da independência financeira. Além disso, existem mudanças sociais significativas no sentido de valorizar as individualidades, em detrimento de padrões de comportamento impositivos.
Isso não muda, contudo, a natureza gregária do homem e sua necessidade de conviver e se sentir acolhido pelo grupo social ao qual pertence. Surge, assim, o conflito entre o desejo de individualidade e o pavor da solidão, que deriva de uma percepção antiga, de que estar sozinho, fora de um relacionamento amoroso ou de um núcleo familiar, era sinal de fracasso pessoal.
Em uma sociedade em que o fracasso não é tolerado, é comum que as pessoas busquem desesperadamente companhia e não suportem os momentos em que estão sozinhas ou sem fazer nenhuma atividade, o que frequentemente é considerado tedioso. Buscam, assim, atividades sociais, físicas e intelectuais que lhe impedem de se sentirem ociosas ou solitárias. Mesmo quando estão fisicamente desacompanhadas, a onipresença dos smartphones, tablets e computadores faz com que estejam sempre em contato com alguém, inseridos em alguma conversa ou em atualizações da vida de amigos.
A ausência de momentos verdadeiramente solitários faz com que recebamos estímulos o tempo todo e nos desacostumemos a ficar sem contato com o mundo exterior. Com isso, não proporcionamos ao cérebro tempo necessário de repouso, que é essencial para potencializar a criatividade, a inovação, a memória e o raciocínio. São muitos os estudos que indicam que um tempo de solidão e silêncio são essenciais para o alto desempenho intelectual, para que haja uma “desintoxicação” dos estímulos e da sobrecarga de informação, preparando-o para novos desafios.
No campo emocional, a facilidade de se distrair – que está, literalmente, na palma das mãos – desestimula a reflexão e o contato com nossos próprios pensamentos. O momento em que o indivíduo está só é aquele em que ele pode se desprender da dinâmica do grupo e pensar/agir por si mesmo, o que lhe proporciona, além de autoconhecimento, um alívio ao se despir das máscaras que a sociedade ainda exige. Estando constantemente acompanhado, a pessoa fica impossibilitada de perceber suas próprias vontades, medos e personalidade, quando não precisa cumprir um papel social que lhe foi imposto.
Os momentos de solidão também são recomendados quando há a necessidade de tomada de decisões importantes ou a solução de problemas. O afastamento da situação conflituosa permite reflexões e autocrítica mais ricas. A história e as religiões são cheias de exemplos de sábios que se isolaram para meditar, antes de tomarem decisões importantes e definitivas.
Aprender a ter prazer na própria companhia também tem impacto relevante nas relações pessoais, pois o indivíduo que é feliz consigo menos não tolera relacionamentos abusivos ou insatisfatórios por muito tempo. Há uma predisposição a se valorizar mais a própria individualidade e a se tolerar menos as relações íntimas em que há profundas diferenças no modo de vida, em que uma das partes tem que fazer grandes concessões para conviver bem com o outro, o que hoje é visto de uma forma negativa, no sentido de anular a própria personalidade.
Fugir dos momentos solitários, portabto, ao contrário de gerar felicidade e uma vida social saudável, só impede nosso desenvolvimento intelectual, social e emocional.
Luiza
CVV Belém-PA
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